segunda-feira, 10 de agosto de 2009

As primeiras dungeons deste DM (introdução – parte IV)

Yo!

Onde estávamos mesmo? Ah, sim… Escrevendo uma introdução que possivelmente vai ser maior que todo o conteúdo do Blog.

Na postagem passada eu estava feliz, sentado embaixo de uma árvore de natal, com uma caixa de D&D na mão e com os básicos de GURPs e Tagmar guardados em algum lugar próximo.

Para falar a verdade o GURPs estava esperando sentado enquanto eu ia entrando no Tagmar e no D&D. O início no D&D foi, digamos, engraçado. Para dar uma boa idéia de quanto eu sabia de inglês eu digitalizei duas páginas do material que veio naquela caixa preta. Cliquem nas fotos e atentem para os rabiscos marcando as palavras que traduzi, uma a uma, usando um velho e bom dicionário de papel. Levei alguns meses para descobrir o que “was” queria dizer! (verbos conjugados não aparecem em dicionários). Mas perseverei e pouco a pouco os rabiscos iam ficando mais raros. Eu posso dizer com muito prazer que foi o RPG que me ensinou o inglês, que me seria muito útil mais tarde na minha vida. Que tal isso como argumento para dar um jogo (em inglês) para o seu filho?


Eu tinha um longo e acalorado comentário para fazer em relação aos jogadores que ficam aí choramingando as traduções da DEVIR (seja os que não gostam delas ou os que queriam mais), mas decidi deixar minhas garras escondidas mais um pouco. Vou só resumir a isto: na era da Internet, dos dicionários digitais GRATUITOS e RÁPIDOS, da globalização e de empresas (e empregos) multinacionais, o cara que teima em não aprender inglês tá enrascado. O menor problema dele vai ser não jogar RPG.

Aquela caixa de D&D tinha a facilidade de ir introduzindo as regras conforme você jogava uma grande dungeon, de forma que eu conseguia jogar mesmo sem ter lido tudo (por isso talvez tenha mestrado D&D até antes do Tagmar, mas não tenho certeza da ordem). No começo você sorteava atributos e nas primeiras salas só isso importava. Logo você tinha que escolher classe baseado nos atributos sorteados e só quando os personagens achavam armas e livros de magia é que eram introduzidas as regras de combate e magia. Nesse processo surgiam algumas situações únicas, tem uma impagável passagem do meu irmão:

Mauro (olhando seus atributos sorteados): para que diabos vou querer um anão?

Os atributos dele permitiam pegar a classe “Fighter” ou a classe “Dwarf” – não existiam raças no D&D original, elfo, anão e halflings eram classes juntamente com Fighter, Cleric, Magic-User e Thief.

Eu: Calma, não é uma pessoa anã, não é um anão, mas sim um Anão. É uma raça sabe? Anão. (imaginem eu me esforçando para transparecer o “A” maiúsculo)

Mauro: Qual é a vantagem nisso?

Eu: Diz aqui (e no Tagmar) que eles vivem nas montanhas e são barbudos, fortes e resistentes à magia.

Até hoje eu acho que foi o “barbudo” que ganhou a parada, mas quem sabe o jogador em questão comente aqui no blog. Lembrem-se que naquela época não havia filmes do “Senhor dos Anéis” e eu só ia botar minha mão no livro (e realmente entender anões, elfos e halflings) em torno de 95 ou 96. O mais engraçado é que este anão sobrevive, o que quer dizer que ele tem 16 anos e, quando jogamos D&D hoje, tem um anão muuuuuito bombado nas mãos do meu irmão. Os outros personagens criados naquele dia – Fura (Halfling cujo jogador era o Dárcio), Jala (Mago/Ronaldo), Nuggin (Elfo/Paulo) e Barab (Ladrão/Maurício) – ou morreram na difícil carreira de aventureiro (Fura e Nuggin) ou foram abandonados quando seus jogadores se afastaram (Jala e Barab). Abaixo vai a planilha original de Moric Blystar Torshyld, filho dos Klintar do clã Skarrad de Rockhome (que ganhou esse nome depois que concluímos que “Hector” estava muito fraco):


Daí para frente o Tagmar e o D&D foram jogados, digamos assim: até "os orifícios corporais fazerem bico" (e isso quer dizer muito, para quem não entendeu). Em pouco tempo eu estava escrevendo minhas próprias aventuras e tinha convencido tudo quanto era moleque na rua a jogar. Jogávamos nos fins de semana a tarde e muitas vezes tinha mais gente no meu quintal do que na rua. Chegou a um ponto em que tive que dividir o grupo no meio e mestrar duas vezes cada aventura, uma vez para o “grupo do sábado” e outra para o “grupo do domingo”. A maioria jogou por um tempo mas depois migrou para outros "hobbies" ou se afastou por motivos mais fortes, mas tivemos uma adesão mais permanente ao grupo de jogo: Ronaldo, o Ganso (hehehe).

Aí tinha um fenômeno engraçado e didático que consistia no fato de ninguém ouvira falar de RPG, a não ser quando eu falava, e portanto ninguém tinha nenhum tipo de “idéia prévia” (para não usar outra palavra mais feia). Então aconteciam conversas assim:

Eu (sentado na calcada depois do almoço num sábado não muito ensolarado): “Vamo jogá galera? Fulano? Ciclano?”

Fulano: “Vamo! Vamo! Vô chamá o Cabeça.” (tem sempre um Cabeça né?)

Ciclano: “Vamo aí. É continuação?” (tinha um cara que nunca entendeu o que era uma campanha, ele me perguntou se era continuação toda vez que jogamos durante uns dois anos, grande Gesisvaldo).

Beltrano, que não jogava: “Jogar o quê?”

Eu: “RPG”

Beltrano: “Que m***a é essa?”

Eu: “Um jogo, vem aí que você vê.”

Beltrano: “Tá!”

O mundo não é um lugar maravilhoso sem pré-idéias? (Tô chegando mais perto da palavra). O cara podia gostar ou não do jogo, enjoar depois de um pouco ou virar aficionado, mas pelo menos ia lá ver. Hoje em dia era capaz de algumas pessoas (ou pai/mãe/parente) saírem correndo ou se irritarem só com o convite ...

Mas 93 ia passando e chegava o momento de iniciar o que considero uma saga para o RPG nacional. Não sei bem como recebi a notícia, provavelmente numa visita à Devir ou a Forbidden Planet (curiosamente não me lembro quando subi aquela escadinha da Devir pela primeira vez, mas a essa altura eu já ia lá sempre que conseguia), mas fiquei sabendo que aconteceria um Encontro Internacional de RPG ali no Ibirapuera, bem do lado de casa!

Então no dia marcado eu juntei meus jogadores e fiz minha mãe levantar bem cedo e deixar todo o grupo ali perto do Obelisco. Pouco tempo depois estávamos congelando (fazia um frio naquela marquise) e vendo mais e mais gente aparecer. Logo estávamos assustados com a quantidade de gente (nenhum de nós imaginava que existiam tantos outros jogando o NOSSO jogo) e assistindo “o gringo da Devir” gritar de cima de uma mesa. O “gringo”, que falava português mal, curiosamente se chamava Tadeu. Ele gritava e apontava:

TADEU: “Quem jogar GURPs, par’ah lá. Quem jogar AD&D par’ah cá...”

A marcação de jogos havia falhado e foi aquela zona... uma maravilhosa e marcante zona. Como essa primeira “Convenção” (e é assim que a chamávamos nos grupos que frequentei por um bom tempo) merece uma postagem grande, eu vou parar por aqui. Deixo um teaser que provavelmente é um boa contribuição para a documentação da história RPG-eica brasileira (já que isso não deve ter sido digitalizado antes):


(Clicando na imagem você vai ser levado a um link para baixar o PDF com a integra da lista de mesas do evento)

Na próxima postagens: os Encontros Internacionais de RPG.

4 comentários:

  1. hehehehe eu tinha so 100 gp ! ! ! !
    Eu ainda tenho esse crosbow da planilha.

    E não lembro porque escolhi o anão. Talvez porque era diferente. Só descobri que anões eram barbudos mais tarde ( meus primeiros desenhos mostravam ele sem barba) hehhehe

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  2. A 1ª convenção ninguém esquece... eram grupos isolados que pensávamos únicos, mas quando juntava gente de toda parte da cidade que jogava já não nos achávamos tão esquisitos.
    Mathias tenho uns materiais para doar para a biblioteca.
    Abraço
    Marafon

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  3. Meu... que bizarro! Comecei no RPG com 7 anos porque meu irmão tinha colocado a mão num livro-jogo de um amigo, depois comprou um tal de hero quest e daí descambou pro resto.
    Lembro do II EIRPG, nossa primeira "convenção"... bizarro, eu tinha ido jogar rpg, e lembro de uma galera andando de patins no lugar que estávamos indo... fiquei perdidasso!

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  4. Muito legal poder rever a lista de aventuras do 1o encontro!!! A sinopse da minha aventura, é uma das melhores que devo ter escrito... :) E explica porque as minhas notas em português, na época, não eram muito boas.

    A CIDADE
    Cidade governada por um tirano que a população não gosta...

    Aonde será que eu estava com minha cabeça para inventar isso...? E a sequência fica melhor ainda...

    ... por torná-los escravos.

    Ainda bem que tinha um motivo para a população não gostar de um tirano! Talvez um dia eu me anime em modificar um pouco o tema dessa aventura para deixá-la mais intrigante: Cidade governada por tirano que a população gosta, por escravizá-la.

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