segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Começando a Jornada (introdução - parte III)

Saudações e bem vindo de volta a este blog que já começou andando perpendicularmente a trajetória a que havia se proposto.

A idéia continua sendo chegar, cedo ou tarde, na quarta edição do D&D e falar sobre ela. Por enquanto estou só contando como eu cheguei na quarta edição do D&D e hoje quem sabe consigo dizer como cheguei na primeira.

Na postagem anterior relatei como uma combinação de um jogo de videogame com o pessoal que jogava bola na rua (em especial meu amigo van-Basten) me levou a botar as mãos no meu primeiro livro de RPG e mestrar minha primeira aventura.

O ano era 1992 e o que eu queria eram RPGs mais polpudos, como os que haviam sido citados naquele meu único e simples livro. Não era uma empreitada fácil, rodei as livrarias da época (basicamente Siciliano, Saraiva e um monte de pequenas outras) e a sigla RPG não significava nada, absolutamente nada. Ninguém sabia, ninguém havia visto e ainda levaria um tempo até eu ter o Google para me guiar. Tudo que eu achei, e isso aos montes, foram os livros-jogo da coleção Aventuras Fantásticas (que por sinal estão agora sendo re-lançados e eu recomendo para qualquer um que tenha filhos, sobrinhos e afilhados na idade certa).

Como quem não tem cão caça com gato, eu ia usando minha “vasta” experiência em cenários de fantasia para montar alguma coisa que parecesse um jogo, usando as regras do Aventuras Fantásticas mesmo. Algumas páginas da tosqueira resultante estão mostradas na figura ao lado (escrito em uma AGENDA velha!!!!) e nunca chegou a ser jogada porque eu queria detalhar o MUNDO inteiro antes de jogar. Ah a inexperiência... Em minha defesa devo dizer que até que fui longe, enchi a agenda da página “9 de janeiro” até a “5 de julho”.

Mas como quem procura (e não desiste) sempre acha, logo fui recompensado pelos meus esforços. Na segunda metade de 92 fui recompensado pela minha busca.


O primeiro e mais marcante achado foi na Bienal do Livro de 1992. Estava lá, só para variar, procurando o sonhado e já lendário livro de RPG. Eis que topo com um stand que causou um efeito em mim que eu diria ser comparável ao que o Neil Armstrong deve ter sentido ao abrir a escotilha do Eagle (o módulo lunar). O stand, chamado “Forbidden Planet”, estava literalmente entupido de caixas, pôsteres e livros de RPG. Era tanta coisa para olhar que eu praticamente não olhei nada, ou pelo menos lembro de pouco. Menos de 20 minutos depois eu saia dali munido de um livro com uma curiosa cabeçorra rosada na capa e com um folheto (o digitalizado acima) que me permitiria re-encontrar aquela loja no futuro, nem que tivesse que peregrinar a este lugar distante chamado Pompéia (eu morava perto do aeroporto de Congonhas). Era a terceira edição do GURPs e eu carregava aquele livrão pesado e recheado de regras com um olhar triunfante.

O segundo devo ter achado um pouco depois ou pouquíssimo antes desse, pois eu lembro nitidamente de ainda não ter lido uma coisa antes de comprar a outra, e eu leio rápido. Foi num passeio pelo Shopping Ibirapuera que esbarrei, dentro da livraria Saraiva (que não era nada mega) com a caixinha azul da foto. Era o Tagmar, uma cópia que parecia ter feito uma odisséia do Rio até São Paulo, de tão arrebentada que estava. Passei a mão naquele item que sequer devia estar a venda e levei-o para casa.


Agora eu estava num novo patamar, minha coleção de livros de RPG atingia a impressionante marca de três, e quem poderia querer mais? O primeiro a ser atacado foi o GURPs. Mergulhei no livro como um homem que acha um oásis depois de dias no deserto. Já comentei que tenho uma certa atração pelo complexo mas ali, naquele momento da minha vida, eu descobri que existe sim o complicado DEMAIS. Não me entendam errado, adoro o GURPs, deve ter sido o RPG que mais joguei em minha vida. Mas pegar o livro como “meu primeiro RPG sério” e sentar sozinho, para ler, entender e mestrar um jogo... Foi como bater num muro de concreto. Alguns meses depois eu até mestrei um “Caravana para Ein Arris” (aventura pronta que vinha no livro). Tínhamos conseguido mais um jogador para se juntar ao bando (o Dárcio, um grande amigo lá da minha rua), mas a decisão unânime dos envolvidos foi de que “não deveria ser bem aquilo”. Confesso que, naquele primeiro momento, o GURPs havia me derrotado.

Passamos então ao Tagmar e eu entendi melhor. A única dificuldade surgiu no fato daquela caixa ter vindo com o dado de 20 lados faltando, tinha só o d10. A idéia de dados “esquisitos” era tão nova que eu até demorei para perceber o que estava faltando. No fim, meu irmão acabou fazendo um icosaedro de papelão para alguma coisa na escola e isso passou a ser nosso d20 por um curto período. Essa coisa bizarra deve estar guardada em algum lugar na casa dos meus pais e vou tentar encontrá-la e colocar a foto aqui algum dia.

Prossegui no Tagmar bem devagar, lendo com calma, absorvendo a ambientação (que era fantástica e facilitava minha entrada – o GURPs vinha sem ambientação alguma). Talvez eu tenha mestrado minha primeira aventura de Tagmar nessa época, mas o começo foi tímido, ainda ficava fazendo pequenas sessões para formar um grupo.

Mas o ano foi passando e eu, como um bom pentelho de 13 anos, fui ficando cada vez mais curioso a respeito do Shopping Pompéia Nobre. Por pura coincidência também estava chegando o Natal.

Lá pelo começo de Dezembro finalmente eu tive meu segundo encontro com uma loja de RPG. Depois ser muito azucrinado, o coitado do meu pai concordou em me levar no tal shopping para ver a tal loja. Lá chegando eu olhei, pensei, admirei e, depois de um tempo considerável, finalmente perguntei para um senhor de barba branca (que se não me engano se chamava Peter e desapareceu da cena RPGeica há alguns anos):

Eu: “Qual é mais legal?”

Possível Peter (PP): “Você sabe inglês?”

Fui honesto: “Não”

Aí ele pegou o GURPs, o mesmo que eu já tinha. Logo concluímos que eu tinha TODOS OS 3 livros de RPG em português existentes na época.

Não querendo me render frente a todo aquele universo de caixas e capas coloridas eu rebati: “Tá, mas e em inglês?”

PP: “Mas você vai conseguir ler?”

Fui estóico: “Eu aprendo” – meu pai estava com um sorriso mágico do meu lado. Ele começava a ver algo de bom naquele jogo caro.

PP: “Tem esse aqui. É o primeiro de todos os RPGs e é bem fácil.” – a assim ele estendeu para mim uma mágica caixa preta. Depois disso veio toda aquela burocracia que envolvia meu pai falar com o vendedor e mandar a caixa preta para o pólo norte, lá onde vivem o Sr. e a Sra. Noel sabem? Então eu tive que ser um menino bonzinho mais umas semanas e esperar até que aparecece o pacote do tamanho certo embaixo da árvore de natal.

Muitos do "não tão novos mas ainda assim nem tão velhos” vão pensar na caixa da Grow, mas não é a mesma (a da Grow foi lançada mais tarde e se baseava nesta mas era mais pobrinha em peças e acessórios). Ali eu recebia uma versão enxugada (para níveis de 1 a 5) do D&D original, aquele da dupla Gygax & Arneson, anterior mesmo ao AD&D. Ainda por cima agora eu tinha dados de todos os tipos!

Estava formado o tripé da minha cultura RPGística inicial: Tagmar, GURPs e D&D. Eu ainda precisava encarar as barreiras linguísticas do D&D e as regras do GURPs, mas eu chegaria lá.

Muitos vão notar que nessa história toda eu sou basicamente um mestre isolado, autodidata e que só havia pisado em lojas de RPG duas vezes (nenhuma na Devir). Meus jogadores, em sua maioria, só jogavam por minha causa e muitos nunca haviam lido um livro (e nunca leriam em alguns casos, nem de RPG nem de nada). E, de fato, eu nunca tinha sido um “jogador” de RPG, por falta de opções eu só mestrava.

Cadê a era de ouro do RPG que todo mundo por aí fala? Cadê os RPGístas?

O ano de 93 iniciaria uma fase especial para o RPG, pelo menos a parte que eu podia ver dele. Mas isso fica para a próxima postagem.

3 comentários:

  1. Vince Clortho, Keymaster Of Gozer3 de agosto de 2009 às 14:28

    Sensacional, nostálgico e ultra-super-clássico a citação a "Forbidden Planet", muito conhecida pelos trekers, dos bons e velhos tempos dos encontros de Jornada Nas Estrelas.

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  2. hahahaha tinha esquecido desse dado de papelão!
    Fiz quando tava na quinta série acho, aula de educação artistica.

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  3. Sensacional sua narrativa! Também comecei em 92 e nunca mais parei! Conheço os passos que você descreveu, conheço até o Peter da Forbidden... Ah! Como é bom saber que não se está só!

    []s,
    Caio.

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